Anteontem fez um ano que eu saí de casa. Na terça eu revi "C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor". Domingo é dia dos pais.
Essas 3 coisas tem uma relação pra mim, pois quando desejava sair de casa, lá nos confins da angustiante adolescência eu desejava não me relacionar mais com meu pai, e ainda que não tivesse maturidade suficiente para uma empreitada como essa eu ia alimentando o rancor de ter um pai problemático, incoerente com a paz esboçada pelos demais componentes de uma elogiada família. Ah, e C.R.A.Z.Y. fala de um amor do filho pelo pai e vice-versa.
No filme o personagem principal, Zachary, é um dos 5 filhos de um homem convencional, cristão e com todos os demais atributos que fazem a figura de um pai de classe média. Zach tem uma relação de afeto com o pai, mas que vê se esvaindo a medida que ele vai crescendo e passa a comprender algumas diferenças que se manifestam em sua personalidade, o que também o tornará incompreendido e rejeitado pelos demais irmãos. Zach não quer admitir a sua homossexualidade, quer ao contrário sufocá-la, único modo de ter para si o amor do pai.
Aqui o tema é a sexuallidade de um garoto, mas em se tratando do nosso relacionamento com os pais é possível encontrar algumas semelhanças na trajetória deste personagem e a nossa. Com pai a gente tem uma relação difícil, a considerá-lo como figura da ordem, da estabilidade, projetamos nele aquilo que não queremos ser. O nosso ideal é o de liberdade, e os nossos pais, quando passamos a conhecê-los lá pela pré-adolescência, geralmente estão afugentados pelo compromisso com a responsabilidade do bem-estar e segurança de nossa família, e na maioria das vezes são praticantes de um autoritarismo amedontrador. Na adolescência, transferimos a figura de herói para nós e quase sempre queremos salvar nossa beata mamãe das garras desse malfeitor. (Sorry aos que tem ou tiveram um pai cool, ok? mas a realidade freudiana e a minha é outra, my dear).
Quando criança eu temia desapontar o meu pai, mesmo que para isso eu desejasse omitir a minha maior verdade, que era a de ser eu plenamente. Em C.R.A.Z.Y. você vê o desenrolar desta história, e ainda mais; você revive alguns sentimentos nesta tortuosa relação de pai e filho. É a saga da descoberta pelo amor próprio e pela aprendizagem do amor pelo seu "véio".
A trilha sonora é um compomente chave nesta trama. Crazy, da Patsy Cline é a música tema que é adorada pelo pai de Zach, Sympathy For The Devil dos Rolling Stones promove uma cena vibrante e Space Oddity do David Bowie nos faz viajar pelos anos 70 da adolescência roqueira do personagem.
Eis um filme charmoso, sexy de roteiro ágil e falado em francês (ainda que canadense), vale dizer que embora o tema não se trata de um filme chocante, portanto fica a dica pra uma sessão descarrego com o paizão neste domingo em que, comercialmente ou não, celebramos o seu dia.
trailer
Crazy - Patsy Cline (download)
Space Oddity - David Bowie (download)
★★★★★ | C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y | Canadá | 2005)
Jean-Marc Vallée | 127 min.
(+) entrevista com o diretor na BBC de Londres
(+) Cineclick
Essas 3 coisas tem uma relação pra mim, pois quando desejava sair de casa, lá nos confins da angustiante adolescência eu desejava não me relacionar mais com meu pai, e ainda que não tivesse maturidade suficiente para uma empreitada como essa eu ia alimentando o rancor de ter um pai problemático, incoerente com a paz esboçada pelos demais componentes de uma elogiada família. Ah, e C.R.A.Z.Y. fala de um amor do filho pelo pai e vice-versa.
No filme o personagem principal, Zachary, é um dos 5 filhos de um homem convencional, cristão e com todos os demais atributos que fazem a figura de um pai de classe média. Zach tem uma relação de afeto com o pai, mas que vê se esvaindo a medida que ele vai crescendo e passa a comprender algumas diferenças que se manifestam em sua personalidade, o que também o tornará incompreendido e rejeitado pelos demais irmãos. Zach não quer admitir a sua homossexualidade, quer ao contrário sufocá-la, único modo de ter para si o amor do pai.
Aqui o tema é a sexuallidade de um garoto, mas em se tratando do nosso relacionamento com os pais é possível encontrar algumas semelhanças na trajetória deste personagem e a nossa. Com pai a gente tem uma relação difícil, a considerá-lo como figura da ordem, da estabilidade, projetamos nele aquilo que não queremos ser. O nosso ideal é o de liberdade, e os nossos pais, quando passamos a conhecê-los lá pela pré-adolescência, geralmente estão afugentados pelo compromisso com a responsabilidade do bem-estar e segurança de nossa família, e na maioria das vezes são praticantes de um autoritarismo amedontrador. Na adolescência, transferimos a figura de herói para nós e quase sempre queremos salvar nossa beata mamãe das garras desse malfeitor. (Sorry aos que tem ou tiveram um pai cool, ok? mas a realidade freudiana e a minha é outra, my dear).
Quando criança eu temia desapontar o meu pai, mesmo que para isso eu desejasse omitir a minha maior verdade, que era a de ser eu plenamente. Em C.R.A.Z.Y. você vê o desenrolar desta história, e ainda mais; você revive alguns sentimentos nesta tortuosa relação de pai e filho. É a saga da descoberta pelo amor próprio e pela aprendizagem do amor pelo seu "véio".
A trilha sonora é um compomente chave nesta trama. Crazy, da Patsy Cline é a música tema que é adorada pelo pai de Zach, Sympathy For The Devil dos Rolling Stones promove uma cena vibrante e Space Oddity do David Bowie nos faz viajar pelos anos 70 da adolescência roqueira do personagem.
Eis um filme charmoso, sexy de roteiro ágil e falado em francês (ainda que canadense), vale dizer que embora o tema não se trata de um filme chocante, portanto fica a dica pra uma sessão descarrego com o paizão neste domingo em que, comercialmente ou não, celebramos o seu dia.
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Crazy - Patsy Cline (download)
Space Oddity - David Bowie (download)
★★★★★ | C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y | Canadá | 2005)
Jean-Marc Vallée | 127 min.
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