21 maio 2008

JÁ ERA... JÁ ERA! JÁ ERA?

Hoje de manhã, logo cedo, enquanto ligava meu Mac e checava meus emails, meu querido e ilustríssimo amigo Zeca Bral Designer me aparece serelepe como de costume e diz: "Menina, trouxe um negócio pra ti!". A última vez que ouvi isso ele me deu um doce de leite finíssimo importado que sua flatmate alemã (como diz ele) trouxe de viagem. Minha primeira reação foi esperar algo de comer, tanto fazia, doce ou salgado...mas não. Ele tira da mochila uma porcaria de Folhateen com uma reportagem intitulada "Já era". Assim que bati o olho fui tomada por um sentimento de nojo e bode: uma foto aérea da XXXPerience ilustra a matéria, que não podia tratar de outro assunto que a decadência das raves no Brasil. Um assunto tão batido que nem merecia um post, mas eu li - a contra gosto, claro, mas só porque o Zeca se deu o trabalho de trazer a reportagem pra mim.

Se é pra falar de rave, vamos então falar de rave.

As primeiras raves no Brasil aconteceram entre 92 e 95, há quem diga que a primeira rolou em 95 trazida pelas mãos do Dj Dimitri, mas como tantas outras coisas na história, não foi datado, não há registros - claro! eram ilegais, escondidas...
Tão escondidas que não havia mapa, a galera se guiava pelo som, abaixava o vidro do carro pra ouvir de onde vinham as batidas.
Mas muito antes dos anos 90 quando o Trance se tornava um estilo de vida aqui, no final da década de 80, as festas já rolavam lá fora e tudo teve início de verdade quando estrangeiros de todo o mundo que moraram em Goa, vieram para o Brasil, trazendo com eles as primeiras fitas DAT, algumas lâmpadas ultravioleta, além dos tecidos psicodélicos com Deuses indianos pintados. Até então ninguém conhecia aquelas cores, o trance, tudo era novidade.

Aos poucos e no decorrer dos anos o movimento foi ganhando cada vez mais adeptos, alguns se tornavam adeptos da cultura, outros se juntavam pela farra, pela festa, pela droga, sem se quer entender do que se tratava aquilo...aquilo o quê? Você deve estar se perguntando...
Aquilo: a cultura, o modo de vida porra!
Quer argumentar? Não existe essa cultura? Não existe esse estilo de vida? Não passam de um bando loucos drogados, uns coitados!?

Então eu vou voltar mais uma vez na história e colocar aqui o depoimento de um dos pioneiros do movimento e da música psicodélica no Brasil e no mundo, o grego Pan Papason:
"O trance para alguns é um modo de vida. Se você morar na Índia por seis meses, já começa a agregar toda aquela cultura. Tem um determinado dia no ano, que os indianos saem na rua jogando tinta colorida uns nos outros. São muitas pessoas coloridas correndo, cantando e dançando. As cores das festas raves vieram desta cultura, os Deuses coloridos, sem contar a espiritualidade do povo e a própria música indiana. Tudo foi transferido para o trance".

Agora sim voltando para a parte dos fritos, drogados, fanfarrões, festeiros, rebolators, dos coturnos, dos chapéus, dos bonés, dos micro shorts no melhor estilo camuflado, dos tops que sustentam os silicones, dos pirulitos que deixam a língua azul, das bandeiras de israel erguidas na pista, das garrafinhas d'água furadas em baixo e bebidas ao contrário, dos colares de sementes, dos vick vaporubs no meio da poeira, dos pobres coitados que estouram seus timpanos colados nas caixas de som...esqueci de alguém?
Enfim, esses sim fizeram as raves “bombar” de tal forma que pessoas que nunca fizeram uma festa na vida, nunca organizaram nada, nem mesmo a própria vida, começaram a fazer festas, núcleos inexperientes, falta de competência e estrutura, cujo único objetivo é faturar, começaram a pipocar por toda parte. Construindo assim o cenário atual que acabou chamando a atenção das autoridades e da mídia.

Mas isso tudo aconteceu há tanto tempo...não é mais pauta nem de discussões em foruns e murais de sites de balada...a Folhateen está um tanto quanto atrasada. E eu me pergunto: Teen? Teenager? Uma faixa etária um pouco baixa para tratar de raves...

Cansei desse assunto, depois falo mais sobre a popularização das raves no mundo...um cenário bem parecido com o nosso. Depois falo também dos pontos positivos e negativos dessa popularização...
Mas uma coisa eu posso afirmar com toda a certeza, não, não acabou, quem conhece sabe, sabe onde encontrar e sabe mais, sabe que a força que move um dancefloor trazendo à tona os instintos mais primitivos do ser humano vai muito além de uma festa...

Bom feriado, com ou sem festa, à todos!
FUI!
∞hypinha∞
Foto by murilo ganesh.

Quer saber mais sobre as primeiras raves?


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