21 maio 2008

Uma parada menos purpurinada?


A cada ano das últimas edições da Parada Gay procurei relacionar o evento a um ato político, e entre um pavão aqui, e uma sirigaita serelepe acolá, o que eu via era nada mais que uma zorra, com direito a muito álcool em forma de vinho (sem rótulo) e meia dúzia de alcoolizados jogado às mínguas por volta das 20h pela Rua da Consolação. Ao que parece, a bicharada vestia a carapuça e se entregava aos prazeres dionísiacos que reina em eventos de grande porte, seja este hétero ou homossexual. Pela mídia, como sempre, uns ou outros caricatos para deleite de algum programinha destinado ao riso da família brasileira.

Esse ano a organização quer tudo diferente. Tirou os trios com apoio de baladas da avenida e no lugar colocou outros 22, o abre-alas sendo o da associação APOGLBT e outros como o da Banda do Fuxico. Insvestiram mais em segurança, 3 hospitais estarão à postos e 26 ambulâncias em todo o trajeto, garantindo assistência aos foliões participantes, além de um telecentro com 20 computadores para que as pessoas possam registrar boletins de ocorrência, no caso da Elza resolver entrar em ação, se é que você me entende.

Para quem acha que o tom político tende a ser menos animador, ao que parece a música eletrônica seguirá embalando a marcha da Paulista até a Praça Roosevelt, como manda o figurino, a organização colocou até release do dj Renato Lopes em seu site oficial.

Ao dimensionarmos o tamanho de um evento como este sem grandes ocorrências de cunho homofóbico, respiramos satisfeitos por entender que a atual sociedade paulistana já convive harmonicamente com a parcela numerosa de sua população gay, certo? Em partes. Daí o tema desta edição ser "Homofobia Mata! Por um Estado laico de fato".

O GGB (Grupo Gay da Bahia) disponibiliza em seu site um relatório anual com um levantamento aproximado de números de morte por homofobia. Entenda-se como homofobia o crime realizado com requintes de crueldade, manifestado pelo ódio e preconceito contra o homossexual; a maioria dos crimes contra gays são praticados dentro de casa, a facadas (31%), ou vítimas de estrangulamento, pancadas, pauladas, asfixia. Em sua maioria o criminoso é desconhecido, por omissão de testemunha e falta de lei que admita crime contra a homossexualidade, diz o relatório. No site do governo federal, a respeito do lançamento do Programa Brasil sem Homofobia há outros dados alarmantes que justificam o tema desta parada "Resultados de recente estudo sobre violência realizadono Rio de Janeiro, envolvendo 416 homossexuais (gays, lésbicas, travestis e transexuais) 6 revelaram que 60% dos entrevistados já tinham sido vítimas de algum tipo de agressão motivada pela orientação sexual, confirmando assim que a homofobia se reproduz sob múltiplas formas e em proporções muito significativas. Quando perguntados sobre os tipos de agressão vivenciada, 16.6% disseram ter sofrido agressão física (cifra que sobe para 42.3%, entre travestis e transexuais), 18% já haviam sofrido algum tipo de chantagem e extorsão (cifra que, entre travestis e transexuais, sobe para 30.8%) e, 56.3% declararam já haver passado pela experiência de ouvir xingamentos, ofensas verbais e ameaças relacionadas à homossexualidade".

58.5% do entrevistados também alegaram ser vítimas de preconceito resultando em impedimento de ingresso em estabelecimentos comerciais, expulsão de casa, mau tratamento por parte de servidores públicos.

O buraco é mais em cima! Meia dúzia de dados para atestar isso:

1 - O Nordeste é a região mais homofóbica do país, com 60% dos homicídios, seguido do Centro/Oeste, com 17%, Sul-Sudeste com 16% e Norte, 7% das mortes contra GLTB.

2 - O risco de um homossexual do Nordeste ser a próxima vítima é 84% mais elevado do que no sul-sudeste.

3 - O Brasil é o campeão mundial de crimes homofóbicos, com mais de 100 homicídios por ano, seguido do México com 35 e Estados Unidos com 25.

4 - 122 homossexuais e travestis foram assassinados no Brasil em 2007, um a cada três dias.

5 - O número verdadeiro deve ser muito maior, pois além de faltar informações sobre 4 Estados: Rio Grande do Sul, Amapá, Rondônia e Roraima, tais dados baseiam-se em notícias de jornal e internet, já que não existem estatísticas governamentais contra crimes de ódio no Brasil, informa o relatório do GGB.

½ - 54% dos mortos estavam na flor da idade, entre 21-40, e 33% tinham mais de 41 anos.

Menos purpurina!

A concentração de 3,5 milhões de pessoas numa via pública, ainda que numa vertente carnavalesca, é eficaz como prática da tolerância com a diversidade sexual, fato é que ao longo das edições não contabilizamos atentados graves contra essa manifestação, como se vê em Israel, por exemplo. Mas daí a aproveitar essa força e exigir dos nossos políticos leis que configurem o homossexual como um ser humano em igual condições e direitos que qualquer outro cidadão brasileiro, exige menos purpurina e muito mais politização.

Zeca Bral não quer fazer a "chata" e promete postar meia dúzia de baladas para a geral se jogar no findi, tá?

Update: Não deu tempo de postar o que prometi, mas algo que me diz que a galera se esbaldou, hein?

(+) GGB
(+) Programa Brasil Sem Homofobia
(+) APOGLBT


FOTO
: dereckesanches | FLICKR

2 comentários:

  1. Comentário nº1: Pode esquecer o Nordeste nas próximas férias Bee!!
    Comentário nº2: To passada com esses números! Com certeza menos purpurina e mais concientização...
    Comentário nº3: Homofobia?!? Eu digo mais, NAZISMO isso sim...
    eu hein...
    FUI!

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  2. legal o post, mas a foto é de extremo mau gosto.

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