16 julho 2008

Essa tal Internet e a Classe C | Parte I


Muito anda se falando do crescimento do acesso à internet pelos brasileiros. São hoje 50 milhões de computadores em operação (incluindo casas e escritórios). Somos também os que mais compraram computadores no primeiro trimestre deste ano, atrás de gigantes como Estados Unidos, China, Japão e Reino Unido.

Atualmente 21,5 computadores são comprados por minutos e até 2010, segundo a consultoria IDC, o Brasil deverá ser o terceiro maior em vendas de computadores, atrás somente dos Estados Unidos e China.


Muito computador pra pouca internet

Internet custa caro, isso o consumidor já sabe e procura um serviço adequado ao seu orçamento, tarefa desafiadora em se tratando de Brasil, onde assistimos atônitos a Telefônica brigar na justiça para que seu serviço Speedy, esteja atrelado ao uso de algum provedor, o que tecnologicamente não traz benefício ao internauta, mas provavelmente muito lucro ao seus defensores.

E com a situação do crédito se apertando, o preço dos alimentos subindo, a internet passa a ser artigo de luxo, sendo assim, o seu uso doméstico fica restrito e o acesso passa ser feito a partir de lan houses, que cumprem o seu papel de inclusão forçada pelas periferias afora.

Contudo, o crescimento das lan houses nas periferias ficam comprometidos, uma vez que muitos os seguros não se comprometem assegurar o empreendimento, devido ao alto índice de furto que ocorre por estas bandas.


Onde o feijão é mais importante que megabytes

No ano passado, o Ministério das Comunicações anunciou que até o meio de 2008 Belo Horizonte seria a primeira cidade brasileira a ser coberta completamente pela internet sem fio. O que incluiria todas as regiões, a incluir a comunidade Vila Cafezal, a primeira favela a ter acesso desse modo no Brasil.

Hoje, já no segundo semestre, não encontrei bulhufas na web a respeito da conclusão desse projeto. Isa ou algum outro mineiro aê pode nos dizer a quantas andam esse projeto?

Todo modo eis-no um gancho pra perguntar o porque a chamada "inclusão digital" em nosso país tem a velocidade pífia de uma conexão discada pleno século XXI?

Porque o governo dá tanta atenção a tal TV digital? É o caso de nos perguntar se seria um lobby das tvs para atrair, de certo modo, o interesse das pessoas por este veículo que já dá seus sinais de cansaço, visto que programas como o Fantástico, Novelas das 8, programas de auditório antes detentores de audiência maciça, vêm sua audiência definharem à medida que o consumidor da classe C passa a comprar computadores em detrimento de novos aparelhos de tvs ou do tal conversor de tv digital, hoje em torno de R$ 199 e que o ministro das comunicações, Hélio Costa, tenta pechinchar no Japão um outro modelo por U$$ 50.

Enfim, o consumidor avalia que a internet pode ser um benefício para "quando as coisas melhorarem", atrelando o uso doméstico dela para o seu futuro.


Analfabeto virtual: o novo excluído

Olha que só que beleza: "cada vez mais, a estratificação social e o acúmulo de riqueza se dão em função da capacidade de acessar e processar conhecimento. O acesso cotidiano às redes, equipamentos e o domínio das habilidades relacionadas às tecnologias de informação e comunicação é requisito indispensável à integração social, atividade econômica e fortalecimento da cidadania." Isso consta na página do Programa de Inclusão Digital do governo federal, mas e na prática? Onde e como está sendo empregado essa tal inclusão?

Não sei vocês, mas sempre vejo alguém na fila do caixa eletrônico com "cara de passado" diante das telas touchscreen (toute o quê?) e os bancos fazendo campanhas para motivar seus clientes a acessaram o bankfone ou o internet bank. Isso nos sugere um desconhecimento de nossa população pelas tecnologias que propõem facilitar o dia-a-dia.

O uso da internet está atrelado à educação da população e sem intervenção do Estado por intermédio do ensino público dificilmente iremos integrar os cidadãos de forma democrática, dificultando desde o acesso a serviços públicos simples ao ingresso no mercado de trabalho.

Enquanto isso nas escolas não se vê melhoria significativa no que refere-se ao uso de computador, aliás neste universo não se vê melhoria alguma, quiçá implemento de informática em sua grade curricular. Tenho familiares estudando em escolas públicas de São Paulo e do Taboão da Serra, a primeira municipal e a outra estadual, e em nenhuma o uso dos computadores por seus alunos é frequente. Obviamente que deve haver casos isolados em alguns colégios pelo estado, mas estes são pseudo-maquetes para serem veiculadas nos horários eleitorais que começam no próximo agosto.

Estamos atrasados para o processo de informatização e inclusão da sociedade brasileira e a internet é só mais um fator determinante na desigualdade social do país. Eis um assunto pra muito mais que meia dúzia de posts que, infelizmente, não poderá ser lido por grande parte do Brasil.

Foto: Carolina Iskandarian/G1)

2 comentários:

  1. Concordo com muita coisa , aí. Qual que é a dessa TV digital? que lobby porquinho está por trás disso? Mas discordo de uma coisa: por mais que ainda haja o que se chama de analfabeto digital, este está com os dias contados.
    As novas gerações, embora não tenham acesso frequente para poder refinar o seu uso, tem, em alguma medida, algum acesso.E não é de se pensar que o acesso irrestrito e compulsório seja uma vantagem por parte daqueles que tem o acesso ( tirando a vantagem de, invariavelmente, ter acesso à alguma informação "valiosa"). Não. A vantagem está em saber o que procurar, como procurar, quando procurar e onde procurar. É óbvio que a falta da ferramenta impossibilita conhecê-la melhor, saber para quê de fato ela serve, e colocá-la em seu devido lugar. De fato, todos a conhecem em algum grau, aprendem a operá-la na escola, com o amigo , na lan house, no vizinho, enfim, oportunidade é o que não falta. Porque a ferramenta é fácil de usar, é auto-explicativa, quase. Daqui a algum tempo, nem precisaremos de muito esforço para interagir com as interfaces do futuro.Mas a coisa fica difícil se seu universo cultural é restrito, não seu acesso.
    Só lembrando, a internet é uma rede mundial simbióticamente ligada à capacidade linguística do indivíduo. Sem um outro idioma para "azeitar a máquina", como o Inglês (língua de contato de todo colonizado capitalista), não se navega além dos mares nacionais
    (usando uma metáfora bem sem-vergonha...). E existe uma caralhada de volume de informação em outras línguas, que nem em sonho, ou em uma única encarnação, se poderia consultar, apreender ou dar uma bisoiada " en passant". E convenhamos, há muita informação inútil só para empulhar.
    O que é, de fato, importante? E mais: é tão importante estar plugado em tudo, o tempo todo?
    Então, o que se discute esbarra em educação: O que alguém quer da Internet está ligado àquilo o que ela pode obter através de si própria. O martelo, o serrote e a lixa ajudam a construir um banco, mas o talho é do carpinteiro... já pensaram em como seria tentar serrar uma tábua com um martelo?

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  2. Alexandre, valeu o coment! Superpertinente o que foi citado por vosmicê. Aproveito aqui pra salientar que este post é o primeiro de uma série, uma vez que pretendo aprofundar-me no assunto, por assim julgá-lo muito importante.

    Estou em busca de dados mais recentes, pois encontrei na imensa internet um estduo entitulado "Internet Na Favela" dos Bernardo Sorj (1 Professor titular de Sociologia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais) e
    Luís Eduardo Guedes (Pesquisador do Favela, Opinião e Mercado) realizado no segundo semestre de 2003, se puder colaborar, estamos aê.

    Avante!

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