05 junho 2009

Viver Sem Tempos Mortos, Fernanda Montenegro, Simone de Beauvoir e uma platéia emocionada


Adentrar ontem o teatro do SESC Consolação para ver a ilustre Fernanda Montenegro, na pele da filósofa francesa Simone de Beauvoir tornou-se um dos momentos mais sublimes da minha experiência de vida. No fundo, eu temia que o espetáculo fosse hermético, daqueles em que o ator sucumbe a sua própria vaidade e numa egotrip frenética faz um jogo de palavras incompreensíveis dominar toda a encenação. Mas a sensação que Fernanda proporciona é de uma conversa a dois - por momentos esqueci que fazia parte de uma imensa e atenta platéia, era como dialogar com uma doce velhinha no busão, saca?

Agora imagine que a motivação desta velhinha seja um grande amor e o seu pulsar a cadência de um existencialismo com suas charmosas e incendiárias idéias libertárias, daí você terá a dimensão da grandiosidade da obra apresentada por esse tesouro das artes cências nacional.

Recentemente vi e citei por aqui, uma outra peça do mesmo diretor, o Felipe Hirsch, que admiro e acompanho, mas não fiquei satisfeito como desejaria, "Não sobre o amor" com os excelentes Leonardo Medeiros (em cartaz com Budapeste nos cinemas) e Simone Spoladore não chegou até mim. De algum modo o texto me pareceu uma alegoria dissonante do grandioso cenário de Daniela Thomas, a mesma que em "Viver Sem Tempos Mortos" compõe o minimalismo aconchegante que dá tom ao espetáculo.

Já ontem, saí do SESC Consolação com vontade imensa de me aprofundar nas obras de Proust, Camus, Sarte e obviamente da própria Simone. O teatro que habita Fernanda Montenegro cumpriu o seu papel e me transformou.

Diante dos aplausos contundentes da platéia Fernanda se emocionou. Admirável constatar que a paixão que a relacionou com o universto teatral a mantém vigorosa anos depois de sua estréia. Sobre sua trajetória a atriz disse em recente entrevista à revista Bravo! "É que realmente vivi sem tempos mortos, algo de que me orgulho. Mergulhei com avidez na existência que ganhei de Deus, da natureza ou do acaso. Realizei uma profissão que considero importantíssima — subir no palco para converter meu corpo em instrumento de discussões."

PS1: Leia a entrevista da atriz concedida a revista Bravo! na edição do mês passado, está imperdível.

PS2: Infelizmente os ingressos esgotaram-se nesta temporada do SESC, mas fiquem atentos que possivelmente deve ocorrer uma reestréia em breve.

Um comentário:

  1. querido, parabéns pela matéria. assisti à peça no último domingo, a última apresentação. Fernanda disse que´o espetáculo volta a SP em novembro

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